quinta-feira, 19 de agosto de 2010

2ª Etapa - Barcelos-Valença

Depois um primeiro dia em pleno, cheio de emoções, novas realidades, adrenalina quanto baste, e a conclusão da primeira etapa da ansiada aventura, a noite foi tranquila, o ideal para repor energias, pois a 2ªa etapa prometia a continuação das emoções, ou não fosse o dia da Labruja!
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Eh pá! Espera aí... Eu disse noite tranquila? Para todos? Nada disso… Há quem sofra de insónias no grupo! Pois é! O amigo Óscar logo pelas 04:30 da madrugada (sim, isto é que é madrugada!) levantou o “rabo da cama” e meteu-se na garagem do hotel, fazendo a manutenção de todas as bikes, incluindo a mudança de câmaras-de-ar e tudo! Xiça que este rapaz madruga mesmo… pode dormir a “siesta” mas depois faz render e de que maneira o inicio da manhã!

Pois é! Há hora do pequeno almoço tivemos esta boa notícia da manutenção das bikes by Óscar Lozoya, o que logo ali nos poupou algum trabalho antes de iniciarmos a 2 ª etapa do Caminho. Com tudo isto às 08 e picos estávamos já todos prontos, com os azimutes virados à esquadra da PSP, mesmo ali ao lado do Hotel, onde encontramos uma série de simpáticos agentes da autoridade, sendo um dos polícias daqui dos nossos lados e familiar de uma colega do Alziro. Logo ali se gerou uma onda de simpatia, de pergunta para cá e para lá e claro os desejos de “bom caminho”.

Recebido o primeiro carimbo era tempo então de rumarmos ao centro de Barcelos, junto ao “Galito” para tirarmos a primeira foto de grupo do dia. Eram 9h e começava a 2.ª etapa! A Labruja esperava por nós!

Os primeiros quilómetros do dia proporcionaram lentamente o adaptar das perninhas ao vai-vem do pedal, pois a saída de Barcelos, fez-se essencialmente por caminhos suburbanos, entrando progressivamente nos trilhos agrícolas que iriam caracterizar grande parte do dia de hoje, onde dominava a cultura do milho, proporcionando mantos verdes invejáveis na paisagem quase plana que o caminho aqui encerra. Que bonito! Quem me dera que o meu milho (e o do Roberto) assim crescesse aqui na nossa Beira… Vila Boa é logo ali, e depois já em Lijó, pudemos apreciar a bonita Capela de S. Sebastião, um dos muitos monumentos do Caminho.

A primeira subida a sério surgiu com a passagem pela primeira zona de floresta, sempre verdejante, que nos levou até às proximidades de S. Pedro de Fins - Tamel, terra natal da esposa do Norberto. A subida foi-se vencendo, surgindo o café local, como um oásis, pois aquela hora – 10 h da manhã, o calor já se fazia bem sentir. Reposto o grupo e carimbados os respectivos passaportes, enveredamos depois por mais caminhos rurais na zona de Aborim, onde numa passagem por um tubo de rega, a Rita teve uma queda da sua Contessa, provocando-lhe uma escoriação feia e algum edema no braço esquerdo, acompanhadas de algumas dores, entrando então em serviço o kit de primeiros socorros que comigo viajou até Santiago... compressas para aqui, soro para ali, uiuiu… dizia a Rita, e eosina q.b. e voilá! Um braço pintalgado de encarnado bem ao gosto do Benfica! Eheheheh!

O passo seguinte seria chegar a Balugães, mas ao “virar da esquina” uma inesperada visão paradisíaca quase que nos levava a abandonar as bikes e a entrar oficialmente em férias de praia, areia, calção de banho e toalhinha… ali, no meio dos milheirais, surgiu uma ponte romana - Ponte das Tábuas, que servia de travessia a uma bonita praia fluvial onde a água límpida dominava as nossas retinas, como que a convidar-nos a entrar… “Vem,… vem mergulhar!....” A tentação era grande, mas o adiantado da hora falou mais alto… bora lá que a Labruja espera por nós!

Em Balugães e depois de algumas subidas algo íngremes e mesmo técnicas nalguns locais, e enquanto o pessoal ia reunindo, eu, o João Valente, o Óscar e o Norberto, seguimos o conselho do Miguel K2, nosso guia do dia anterior, e fizemos um desvio bem a subir para conhecermos o Santuário da Nossa senhora da Aparecida, onde pudemos inclusive visitar o túnel rochoso sob o altar da Capelinha, onde segundo o Miguel só conseguem passar os virtuosos desprovidos de pecados… bem ou mal (ainda tivemos de puxar pelas pernas do João Valente para o desentupir de lá….), lá fomos passando todos. Pecados? Só mesmo o da gula, pois logo a seguir marcharam umas sandochas, sentados na escadaria do santuário, pois era já hora de vitaminar o corpinho!

Reunidos ao pessoal seguimos em direcção a Vitorino dos Piães, num sobe e desce ligeiro quase constante, quando o impensável aconteceu… perdemos o Alziro! Com a história da recolha de carimbos, o Alziro virou para a direita e a malta para esquerda e quando demos conta já o Alziro ia alguns quilómetros à frente. Depois de algumas telefonadelas lá nos reencontramos!

Seguiu-se a passagem por inúmeras localidades como Portela, Reborido, Sobreiro, Anta, Pedrosa, sempre em trilhos de predomínio agrícola, sempre ladeados por algumas montanhas de assinalável respeito, embora o trilho seguisse quase sempre pelo vale, no tal sobe e desce por vezes importante. E lá surgiu a esperada placa que indicava a proximidade de Ponte de Lima onde entramos pela zona da praia fluvial, bem dominada por inúmeras “manchegas” que se banhavam para nossa real inveja, pois o calor apertava - eram horas de almoçar!

Com a CDC (Carrinha do Cabaço) no estacionamento junto à Ponte, os nossos excelentes apoiantes logísticos - Mário e Cabaço, estavam à nossa espera numa das muitas esplanadas que povoam a zona, num ambiente de descontracção, típico deles, para que lhes fizéssemos companhia para o almoço, que aproveitamos para fazer num dos cafés típicos, com petiscos típicos - pregos, bifanas e umas pataniscas de bacalhau que ainda agora me fazem água na boca… ai ai…

Tudo isto bem regado com umas bjecas geladinhas porque o calor assim convidava! O Óscar, jovem madrugador, aproveitou a fresca calçada para repor a sua “siesta” fazendo alguma inveja e gáudio no grupo e nos surpresos transeuntes daquele local!

A Labruja brilhava lá ao longe sob o sol no zénite, como que a desafiar-nos… mas o momento era de descontracção e convívio, aproveitando eu, o JoãoValente e o Norberto inclusive para fazermos mais duas geocaixinhas que habitavam o redor da ponte. A Rita, fruto das dores no braço e de algum cansaço acumulado do dia anterior acabou por seguir com o nosso apoio logístico, depois de “retocada” a desinfecção no seu braço.

A malta seguiu então em direcção a Arcozelo, passando por inúmeros single tracks, por vezes algo técnicos, onde nos cruzamos com um grupo de ciclistas espanhóis com mochilas, numa paisagem em que dominavam as hortas e pequenas culturas. Logo a seguir passamos por uma zona de pesca à truta no Rio Labruja, passando depois numa improvisada ponte, sob a Auto-estrada, começando uma subida acentuada em direcção a uma pequena localidade - Codeçal, com uma bonita capela em honra da N. Sra das Neves, onde aproveitamos para retemperar forças e bebericar uns Ice Tea, pois a subida da Labruja estava próxima!

Começava agora a verdadeira peregrinação, pois a seguir a algumas subidas entre muitas zonas agrícolas, surgiu a imponente pedregosa, rude e exigente subida até ao cume da Labruja (Portela Grande).

Aqui são postas à prova todas as forças de quem se atreve a fazer o Caminho, pois a subida é lenta, penosa, muito exigente fisicamente! A subida a pé com a bike às costas é quase uma constante, devido à complexidade do terreno. É verdadeiramente impossível pedalar aqui, na maioria do trajecto! Duro, duro! A meio da subida passamos pela emblemática Cruz dos Franceses ou dos Mortos, onde aproveitamos para depositar as pedrinhas que connosco transportávamos, fazermos uma fotografia de grupo e claro retemperarmos forças, pois como o CLI afirmou à sua chegada, estava “quasi muerto, en la Cruz dos Muertos!”

A subida continuou, sempre técnica e exigente e o atingir do topo, junto á Casa do Guarda Florestal, não ditou como se esperava, o fim das dificuldades… pelo contrário… a descida demasiado técnica, ditou a continuação do ”passeio pedestre” de bike às costas…

Bem… mas a seguir à tempestade vem sempre a bonança e para nosso gáudio - eu incluído, surgiram umas imponentes e adrenalínicas descidas que fizeram voltar o sorriso de orelha a orelha aos apreciadores desta especialidade- – Paulo como eu te compreendo! Brutal, excelente… adorei esta bike, até nisto!

A chegada a Rubiães ditou a visita ao Albergue onde pudemos recolher mais um carimbo, atestar cantis de água e ao mesmo tempo apreciar a qualidade do local. Espectacular albergue!

As subidas e as descidas continuaram, num constante vai vem, sempre por paisagens verdes, onde dominava a floresta, as culturas de regadio, os espigueiros e as pequenas aldeias rodeadas de mata – São Bento, Gontomil, Carcavelhe, Pereira, Fontoura.

Entre Pedreira e Tuido começamos a aproximar-nos das zonas de incêndio florestal que há já algum tempo víamos ao longe com colunas de fumo importantes, passando por uma zona que teria ardido há algumas horas atrás, dominando o ar com um cheiro intenso a queimado… que pena arder assim o nosso património natural! E que bonitas ficaram as nossas pernas suadas, agora cobertas de fuligem preta!

Eram 18:30 h e estávamos a entrar em Valença, onde o Hotel Lara nos esperava. Era agora tempo de descansar, tomar banho, comer e beber em sã e acalorado convívio, em mais um jantar de família, nesta bonita cidade de Valença, aproveitando o serão para um passeio até ao Albergue de S. Teotónio, mesmo ali ao nosso lado, onde pudemos recolher mais um carimbo e comprar novas credenciais, pois as nossas estavam já praticamente cheias e ainda só íamos a meio do percurso.

Para trás ficaram os verdes campos portugueses, a beleza das aldeias graníticas, as esplanadas de Ponte de Lima, a agrura da Labruja. Mas o que ia ficar mesmo na nossa memória seriam os excelentes momentos com as nossas bikes e com os nossos amigos. Amanhã esperava-nos a 3.ªetapa que culminava com a entrada em terras de “nuestros hermanos”. Mais um dia de aventura!
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Dados da 2ª Etapa:
Barcelos - Valença
75,66Km’s
Tempo a Pedalar: 5:19:53
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9 comentários:

  1. Xiii o dia da minha queda... Bigada pelo tratamento de luxo no bracinho!!!

    Beijitos Katita

    P.S. Vocês escrevem bemmmm

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  2. Olá Rita Katita!

    Sabes... nós erámos para ser profissionais da reportagem... mas o futuro atraiçoou-nos (lol)... e a saúde chamou por nós! Agora colmatamos esse gosto aqui na "blogaria"!

    Obrigado pelo teu comentário! É sempre bom recebe-los após estes testamentos! Ehehehe...

    Beijokas

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  3. Mais uma reportagem de qualidade. Eu estou "quase" a acabar de escrever a minha reportagem do primeiro dia.
    Adorei a Labruja, e não foi assim tão dura. Pesou andar com a bike às costas, mas passei a subida toda, e bem longa que é, à risota e à conversa, e a dizer disparates. Adorei a Labruja pois é um sítio lindíssimo e vale bem a pena o esforço.
    Bjs.

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  4. Meninas ainda bem que estão a gostar aqui dos reporteres... Perderam-se uns "Josés Rodrigos dos Santos", ganharam-se uns enfermêuticos de luxo que fazem corações de eosina!...ehehhehehe

    A saga vai continuar!... esperem pelos últimos episódios!

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  5. Venham os próximos episódios. Quanto mais leio e vejo mais vos invejo.
    Reportagem sempre ao vosso nivel.
    Um abraço.

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  6. Fidalgo... terias sido uma companhia bestial no nosso grupo! Numa próxima aventura "tira bilhete" desde início que não te irás arrepender.

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  7. Vocês 2 escrevem mesmo muito bemmmm ! Com estas descrições todas, acompanhadas por fotos tão boas, quase que nos sentimos "in loco" .
    Bons e muitos Kms já fizemos juntos, mas estes devem ser com toda a certeza, aqueles que vos vão permanecer mais tempo na memória.
    Parabéns a todos pela fantástica aventura.
    1 abraÇo.

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  8. ola
    estou a pensar fazer esta viagem já no proximo mes nos dias 11,12,13,14 será que me podiam dar algumas informaçoes
    se me podessam adicionar o meu mail é o seguinte
    tiago_ferreira_pvz@hotmail.com

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  9. Caros Camaradas "do Caminho".
    Só agora estou a ler as reportagens e, por cada linha que leio a nostalgia apodera-se.
    Excelente reportagem.
    Além da fantástica aventura que juntos fizemos, fica esta magnífica reportagem para nos lembrar sempre.
    Nota: A reportagem está excelente. Mas permaneçam como enfermeiros, pois bons profissionais fazem cá falta.

    Roberto Nabais

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