sexta-feira, 20 de agosto de 2010

3ª Etapa - Valença-Pontevedra

A pernoita no Hotel Lara em Valença do Minho foi para mim a noite mais restabelecedora de energias! Um hotel muito bom, com bastante qualidade nos quartos e sobretudo camas excelentes! A opinião do grupo pareceu consensual! Uma referência hoteleira a apontar na zona!

Após as 2 primeiras etapas sem grandes manutenções nas bicicletas… e sem avarias, optámos por fazer uma verificação/ manutenção mais profunda antes de dar-mos início ao 3º dia de peregrinação rumo a Santiago de Compostela. Com arraiais montados frente ao Hotel Lara e à fortaleza de Valença… cada um “puxou lustro” à sua menina ao melhor modo! Pressão dos pneus, limpeza rápida de corrente, cassete, roldanas e pedaleiro, óleo lubrificante… e fica pronta para os restantes Km’s!

A fotografia de grupo defronte à Fortaleza de Valença do Minho captada pelo colega Mário, marcava o início do 3º dia… 3ª aventura! 11 pedalantes de novo, com o reintegrar da Rita Katita, restabelecida de força física e anímica (aquela “siesta” do dia anterior conferiu-te poderes divinos!) Ehehehe…

A Fortaleza de Valença juntamente com a Ponte Metálica sobre o Rio Minho marca o fim do território português e o início do Caminho de Santiago por terras galegas. Estávamos na fronteira Portugal - Espanha. Do outro lado da Ponte Metálica entrámos em Tui, é ali que está o Km 0 do Caminho Português em terras de Galiza. Sem dúvida um momento marcante da nossa aventura. Apenas a título de curiosidade, antes de haver ponte os peregrinos atravessavam o rio de barco entre os Cais do Arinho e de Lavacuncas, o que ainda hoje pode ser feito!

Com a entrada em território de “nuestros hermanos” os nossos relógios adiantaram 60 minutos! A hora matutina (8:10) a que tínhamos saído de Valença… revelava-se tardia em território espanhol! Pessoal… sem stress, sem stress, sem stress!!!

Com a passagem da ponte fomos desde logo (bem!!!!!) recebidos pela Guardia Civil ensonada que resmungante entre um espanho-portunhol nos negou o 1º carimbo da Galiza. Boa! Seguimos pelas ruas empedradas e algo tortuosas em vertente ascendente até chegarmos à catedral medieval (Santa Iglesia Catedral de Tui) situada no topo da cidade, com vista previligiada sobre o Rio Minho! Aqui sim… o 1º carimbo galego!

Já com a Catedral de Tui já nas nossas costas, e ainda dentro de muros históricos, passámos pelo túnel do Convento das Clarissas (pjfa a demonstrar toda a eficácia das suspensões de longo curso da sua Canyon), Igreja de Santo Domingo e San Bartolomé.

Em território espanhol encontrámos mais dois tipos de marcação do caminho além das tradicionais setas amarelas: azulejos de fundo azul com vieira amarela (concha de Santiago), e pilares de cimento com a mesma sinaléptica acrescidos de placa indicativa com a quilometragem restante até à Catedral de Santiago de Compostela. Apesar de mais significativas em termos estéticos e simbólicos, fiquei com a noção que o Caminho do lado português se encontrava melhor marcado, dispensando a utilização de tracks GPSr. Já do lado espanhol… os pontos de marcação eram mais espaçados e em pior estado de conservação!

Após Tui, ciclámos por zonas onde abundava a ciclovia em paralelo à estrada N-550, com passagem na Capela de Virxen do Camino (nome curioso!!!), para depois entrar num dos troços mais bonitos do percurso - o Vale do Louro. Bosque frondoso e fresco onde o verde entrecortado pela luminosidade proporciona um misticismo típico do caminho. O som de um pequeno riacho consegue-se ouvir se o silêncio perdurar. Locais de culto, como cruzeiros ou simplesmente pilares de sinalização repletos de pequenas pedras em amontoado foram uma constante daqui até Santiago de Compostela!

Curioso… pensar que durante os 4 dias de pedal pelo Caminho Português de Santiago de Compostela não vi nenhum peregrino ou conjunto de peregrinos em oração… como é habitual nos caminhos de Fátima. Todavia, há quem diga que os caminhos da fé não se ensinam… encontram-se! E no Caminho de Santiago esse encontro com o mundo místico-espiritual é uma experiência constante! Muitos admitem que iniciaram a peregrinação sem objectivos sagrados, acabando por terminar com um olhar diferente sobre o caminho, um olhar quase sempre espiritual ou religioso de encontro sobre si próprio! É começar turista e acabar peregrino!

Mas não nos deixemos dominar pelo romantismo “cego” (!)… a verdade é que o asfalto se sobrepôs ao caminho rural em muitos troços! O cruzamento da Estrada N-550 foi uma constante e tivemos mesmo de seguir o seu troço durante vários km’s, como foi o caso da travessia do Polígono Industrial de Porriño. O elevado tráfego de veículos que circula nesta nacional torna o Caminho perigoso em alguns pontos, especialmente quando circulam grupos numerosos como o nosso!

Pela mesma estrada por onde entrámos em Porriño, saímos agora rumo a Norte com passagem em Mós, Rio Louro, Cabaleiros, Monte Cornedo, Chan das Pipas, e Vilar, a última povoação antes de entrar em Redondela. Ao longo do caminho estabelece-se contacto com muitas pessoas, ouvem-se muitas histórias, partilham-se vivências… é este o fascínio que envolve os Caminhos de Santiago de Compostela! Sentimos que em muitas localidades de passagem o Caminho acaba por ser a salvação/ sustento económico das populações… recebendo diariamente pessoas originárias de todos os cantos do mundo! Quem não se lembra daquele “miminho”… uma cesta de maçãs para saciar o peregrino!

A chegada a Redondela coincidiu com a hora de almoço, pelo que deixámos a escolha nas mãos dos “Hermanos Lozoya”… e que bem fizemos!!! Bem confortados numa esplanada, foi ver o rodízio de pratos passar à nossa frente… Sopa, Pulpo à Gallega, Massada (não sei de quê!), Salmão grelhado, “postres”… tudo bem regado pela suculenta “cerveza con y sin alcohol con limón”!! Que pitéu! Quem tinha agora disposição para voltar a pegar nas companheiras de peregrinação (leia-se bikes!)??? E… parece que vinham aí dificuldades pela frente… e ainda 20Km’s até Pontevedra!!!

Talvez… tenham sido os 20Km’s mais exigentes do dia, no entanto também foram os km’s de maior beleza no percurso: bosques, calçadas de pedra redonda, paisagens floridas por giestas, girassóis, milheirais, pinhais e soutos alternando com vinhas e campos cultivados. Paisagens deslumbrantes… momentos bem passados em grupo! Cada um à sua maneira… e de diferentes maneiras complementámo-nos como grupo… Faço minhas as palavras do Norberto foi bom conviver com o “…pedalar incansável para cima e para baixo do FMike, o humor do Carlos Lozoya, a irreverência do Óscar, o carácter ponderado do Alziro (para não falar naquele "bocadillo de jamón serrano" :), [o olho fotográfico do João Valente], o espírito alegre do João Lavado, a bravura nas escadas e emoção à chegada do Paulo, a constante e alegre companhia do Roberto e o seu estômago sensível, o "be-cool" do Mário e a "coragem da Teresa e Rita por se juntarem a um grupo de homens durante 4 dias. Foi, sem dúvida, um colorido de personalidades que contribuiu para o sucesso global da nossa aventura”! Parece estranho que laços de amizade cresçam de uma forma tão rápida no Caminho! Crescem… por vezes em dias… sentimentos que muitas vezes passamos um vida um busca deles!

Entre Redondela e Pontevedra, tivemos duas subidas consideráveis a vencer. Uma delas mais suave, em asfalto, que nos brindava no seu cume com uma vista esplendorosa sobre a Ria de Vigo durante alguns km’s, a outra mais técnica, com algumas zonas não cicláveis a fazer recordar a Labruja do dia anterior! Esta última apelidámo-la carinhosamente de Labrujinha! Ehehehe…

Seguimos por Arcade, Pontesampaio, Figueirrido, Boullosa, Bértola, com passagem na Ponte sobre o Rio Verdugo, onde as temperaturas cálidas do dia e as apetitosas águas do rio fizeram o Óscar Lozoya parar na “boxe” para uma banhoca retemperadora. Ao que parece houve muita inveja desta atitude (por mim falo)!!... Inveja de peregrino! Ehehehe… A título de curiosidade, Arcade é considerada por muitos a pátria das melhores ostras de Galiza e onde se encontravam muitas das famosas Vieiras (conchas de Santiago), tornando-se hábito dos peregrinos prenderem uma ou mais destas conchas ao capote, ao chapéu ou ao bordão… mais modernamente, às mochilas ou às bicicletas – um símbolo marcante dos caminhos de Santiago.

De salientar que todos nós, peregrinos do BTT@CasteloBranco levávamos connosco uma concha gentilmente oferecida pelo nosso colega Mário. Concha esta, não das praias galegas… mas da nossa costa portuguesa… ali dos lados da Areia Branca. Obrigado Mário! Ainda relativo a conchas, agradecer aqui a gentil oferta dos “Hermanos Lozoya”, que no final desta 3ª etapa ofrendaram a todos nós peregrinos a Vieira (galega) com a respectiva cruz de Santiago… símbolo que levaríamos connosco até à Catedral em Santiago de Compostela. Ufffaaa… que íamos pesados com tanto crustáceo!

Passada a área mais montanhosa da etapa (Labrujinha!) o caminho alarga-se de novo, correndo campos, vinhas e pomares até à periferia de Pontevedra, que se avista já perto, pela multiplicação de casas e agitação urbana. Estávamos na recta final deste dia 3… e a quantidade de peregrinos aumentava significativamente à medida que nos aproximávamos do nosso objectivo final - Praza do Obradoiro - Santiago de Compostela.

Chegámos pelas 18:00 (hora espanhola) ao nosso local de pernoita - Hostal “El Peregrino”, localizado na entrada sul de Pontevedra, bem perto do Albergue El Peregrino, onde efectuámos a fotografia final de etapa, bem como o respectivo carimbo na credencial.

Chegámos com a sensação de missão cumprida, sem baixas e sem avarias, apesar das muitas horas em cima do selim! O tempo era agora de (continuação) da confraternização… à mesa (Restaurante El Peregrino), e do merecido repouso nos macios, profundos, encovados colchões do Hostal. Ainda se lembram daquela cozinha… ops… recepção ou seria… kitchenet! Meu Deus… o que um peregrino tem de aguentar!!!

Amanhã… vamos ter a emoção de chegar à Catedral de Santiago de Compostela! Certamente todos sonhamos com isso esta noite!

Dados da 3ª Etapa:
Valença - Pontevedra
60,19Km’s
Tempo a Pedalar: 4:01:19


3 comentários:

  1. João confesso que já sou apologista da siesta, o Óscar tem razão, aquilo faz milagres!!!
    Este foi o dia do fantástico pulpo... e depois upa upa que custa pedalar!!! A massada não sei do quê... nem eu sei... aliás nós nem sabíamos o que tinhamos pedido:)))
    Esse belo hostal com camas de mergulho!!!
    Que dia...
    beijinhos Katita

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  2. Oi Rita. Acima de tudo foi mais um excelente dia pelos bonitos caminhos de Santiago. Aquela labrujinha parecia dificil mas fez-se pois então! O pulpo dá uma força, melhor que os espinafres do Popeye! Até tive direito a experimentar a tua Contessa! Eehehehe
    Vai seguindo o relato que está quase, quase no final!

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  3. gostamos muito de ler a vossa aventura, nos também vamos fazer o caminho de Santiago em Abril, esperamos que seja uma boa experiência como a vossa foi. Abraço e boas pedaladas.
    http://bttfigueiracastelorodrigo.blogspot.com/

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